sexta-feira, 6 de novembro de 2009

SERÁ MESMO QUE O DI NÃO FOI REFUTADO? Parte 1

Introdução:

Muitos seguidores da doutrina “Design Inteligente – DI” alegam ser este criacionismo subreptício uma teoria científica alternativa às teorias que explicam o mundo sob um enfoque puramente natural.

Teorias científicas devem se pautar pelo
Naturalismo Metodológico. Conforme o artigo ora citado em sua integra:

NATURALISMO É NECESSÁRIO?

Wilkins, J. (2006) Evolução e Filosofia - uma introdução. Naturalismo: é necessário? Projeto Evoluindo - Biociência.org. Trad.: Fernando Lorenzon [http://www.evoluindo.biociencia.org].

Na filosofia, ‘naturalismo’ é a idéia de que uma explicação é justificada como se apoiada na evidência de um tipo empírico. Tem sido muito aplicada na filosofia da mente e filosofia moral, e recentemente, como uma ferramenta para a ‘hegemonia conceitual’ da ciência em oposição às idéias de alguns sociologistas e historiadores da ciência, que colocariam as visões de mundo (comportamentos aceitos pela sociedade) em perspectiva. Na discussão do criacionismo x evolução, tende a significar algo mais – a idéia de que explicações não devem levar em consideração o sobrenatural ou espiritual. Estes dois sentidos sobrepõem a um grau (porque evidência do sobrenatural não é empírica, mas revelatória).

Repare, entretanto, que o segundo sentido é uma idéia sobre o que existe, enquanto o padrão é uma idéia sobre o que pode ser conhecido na ciência. Se há um reino espiritual que não é aberto à observação, então a ciência não pode usá-lo para explicação. Para a ciência, explica-se sobre coisas que são observadas.

Se a ciência não pode ser usada para explicar coisas que não se pode ver e testar, isto não exclui outras disciplinas usando explicações não-naturais (como a teologia). Apenas significa que a ciência não pode usá-la, assim como ela destrói o verdadeiro conceito da ciência. Há duas maneiras nas quais a ciência não pode ser não-naturalística. Ela não pode fazer a suposição de que os fenômenos são mesmos não-naturais – ela tem de assumir que tudo observado é acessível por uma investigação naturalística. Chame a isto de naturalismo metodológico.

A ciência deve também evitar explicações não-naturais. Isto é naturalismo explanatório. Qualquer explicação que usa ‘explanadores’ (algo a explicação) não-naturais, falha em ser testado. Eu poderia propor que um processo qualquer é o resultado dos poderes de um Unicórnio Rosa Invisível. Você não pode nem falsificar nem verificar isto (nos sentidos habituais). A marca de qualidade da ciência, talvez a única marca, é que explicações são testáveis. A razão para isto está no que a filosofia chama de epistemologia (da palavra grega para crença, epistemé, mas usado no sentido de conhecimento – conseqüentemente, ‘estudo do conhecer’).

Epistemologias de Platão a Kant foram infalibilísticas – uma crença não era conhecimento se houvesse qualquer chance de estar enganada. A ciência, por outro lado, está freqüentemente errada, e é constantemente revisada.

Contudo, o que a ciência entrega é de longe a mais bem-sucedida forma de conhecimento reunido jamais desenvolvido por humanos. A epistemologia requerida pela ciência é por esta razão uma visão falibilística do conhecer.

A base para isto encontra-se no ato de testar. A explicação científica deve ser aberta para qualquer investigador competente a testar e avaliar. Experiências revelatórias não são universalmente abertas a todos, e intuições sobre o universo são muito diferentes para diferentes pessoas e culturas, então explicações não-naturalísticas são excluídas do domínio da ciência.

Uma maneira útil de abordar isto é perguntar com que se pareceria uma explicação não-naturalística. Explicações são equações, de alguma forma. Você explica X por dizer o que é um Y (e um Z, etc). Se uma explicação não-natural deve funcionar, ela tem de colocar algo que não é nem vazio nem circular no outro lado da equação. O que conta como um explanador não-natural? ‘Alguma coisa é não-natural se ela não for natural’ é completamente vazio até nós soubermos como distinguir entre as duas.

O caminho habitual para definir o não-natural é que isso não é explicável na forma de leis naturais; ou seja, quebra a corrente causal. Se nós abandonarmos a suposição metodológica do naturalismo – que tudo é aberto à investigação empírica – podemos dizer que qualquer coisa não explicável atualmente por leis científicas é não-natural, mas não é isso o que significa. Podemos distinguir entre nossa ignorância atual e alguma coisa que é a princípio não cientificamente explicável, certamente.

Queremos alguma coisa que é completamente fora do curso e eventos físicos [alguns proponentes do termo ‘sobrenatural’ o usam para se referirem a ‘incausado’ – o que isso significa na verdade é realmente incerto].

Mas se nós o tivermos, poderíamos incorporá-lo dentro de uma explicação científica? Poderíamos obviamente não usar observações empíricas – elas dependem do curso ordinário dos processos físicos. Então, o que mais está lá? A resposta é: nada. Explicações não-naturais não são científicas.

A forma final do naturalismo é o naturalismo ontológico. Esta é a opinião de que tudo que existe (grego clássico: on-, forma raiz de ‘ser’, da qual ‘ontologia’ é derivada, conseqüentemente, ‘o estudo do que existe’) é natural. Muitos cientistas são também fisicalistas. Eles afirmam que se nós não precisamos postular a realidade de processos não-físicos para a ciência, então podemos concluir que não há tais coisas. Este argumento é muito rápido. A alegação que ‘se A então B’ explica que B deve ser verdadeiro, mas deve haver também um C que explica B. Além disso, muitas coisas no mundo físico são causadas por muitas coisas juntas que apenas umas poucas. Então, podemos dizer que um evento físico é causado ambos, por Deus e por causas físicas, sem ser logicamente inconsistente.

Sua resolução depende do que você está usando como suposições básicas. Na ciência, a Navalha de Ockham (‘não multiplique entidades na explicação, desnecessariamente’) – também conhecida como parcimônia – é usada para alcançar a explicação mais firmada. Estender esta ciência externa é uma proposta arriscada, a menos que você queira fazer com que a suposição metodológica também funcione na metafísica tão bem quanto na física. Muitos estão (incluindo eu), mas não é uma conclusão necessária vinda de qualquer forma de ciência.

Na doutrina filosófica conhecida como naturalismo moral, sistemas morais são explicados nas condições das propriedades sociais ou biológicas de humanos. Isto é freqüentemente uma abordagem darwiniana. O que eu quero apontar é que não apenas explicar, mas propor um sistema moral nesta maneira envolve o que G.E. Moore famosamente chamou de “Falácia Naturalística”. Você pode dar uma explicação naturalística de morais sem justificar ou invalidar esses princípios morais.

Explicação e justificação são duas atividades diferentes. Então, com ontologia também. Você pode aceitar a suposição metodológica do naturalismo na ciência, sem invalidar ontologias não-naturalísticas. Elas apenas não são científicas. Na minha concepção, ontologias fora da ciência são assuntos de escolha pessoal. E como Cícero uma vez disse, gosto não se discute. Na ciência, há (legítima) discussão. Então, ciência é mais que uma questão de gosto.

Artigo fantasticamente claro, isento e esclarecedor da metodologia a ser seguida pela verdadeira ciência, porém abominada pelos pseudocientistas do criacionismo e do DI.

Todavia há um artigo extraído
daqui, cuja pretensão é demonstrar que o DI jamais foi refutado (doce ilusão) e que responde a todas as questões onde a TE pelo menos por enquanto apresenta lacunas.

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