segunda-feira, 16 de novembro de 2009

DESIGN INTELIGENTE - A Teoria da Conclusão Irrelevante














1 - INTRODUÇÃO:


O debate entre evolução e criação, ha muito superado pelas atuais descobertas científicas, atualmente renasce sob novo enfoque: a transformação do “criacionisnmo científico” em teoria do design inteligente (TDI)”.

Após a fragorosa derrota dos criacionistas, em 1987, no caso Edwards v. Aguillard, o criacionismo assume a fachada de design inteligente (DI).

O movimento do DI alega que a vida não poderia ter se desenvolvido por meio de processos naturais aleatórios, mas que somente por meio de uma força inteligente é possível explicar a complexidade e a diversidade das espécies. Mas, a identidade ou origem desta “força” é irrelevante...


2 - HISTÓRICO DO MOVIMENTO CRIACIONISTA EM TODAS AS SUAS NUANCES:

Um dos primeiros argumentos referentes ao debate sobre a existencia de um designer no Universo surge com Platão, no seculo VI a. C., em seu tratado Timeu. Tal argumento fazia menção a proposta de um demiurgo.

Aristóteles em seu trabalho “Metafísica” desenvolveu a idéia de um criador-designer do cosmos, o "Motor Imóvel".

Por volta de 45 a.C., Cícero em “De Natura Deorum” propôs que "o poder divino deve ser encontrado no princípio de uma razão que permeia toda a natureza". Esta linha de raciocínio aplicado a um designer sobrenatural é denominada “argumento teleológico para a existência de Deus”.

O Cristianismo , ao mesclar a filosofia greco-romana com a mitologia judaica, a fim de convencer os gentios a respeito da veracidade da nova seita, passa a dar sentido lógico àquilo que dentro do judaísmo era mera questão de fé. Todavia, aquilo que não interessava foi posto para baixo do tapete.

Quanto ao pensamento grego, deve-se dizer que entrará no cristianismo como sistematizador das verdades reveladas, e como justificador dos pressupostos metafísicos do cristianismo; não, porém, como elemento constitutivo, essencial e característico, porquanto este é hebraico e cristão.

E quanto ao direito romano, deve-se dizer que entrará no cristianismo como sistematizador do novo organismo social, a Igreja, e não como constitutivo de seus elementos essenciais e característicos, que são próprios e originais do cristianismo.

Dessa forma, ao se cristianizar o pensamento greco-romano, o deus bíblico passou a ser o regente e criador do mundo a todos os convertidos a nova fé. Ou seja, abandonaram-se mitologias anteriores e colocou-se uma única no lugar.

Tomás Aquino, por volta de 1273, em sua obra “Suma Teológica” propôs o design como uma de suas cinco provas.

Maiores detalhes sobre o pensamento filosófico cristão, consultar o Mundo dos Filósofos;

A proposição de Tomás Aquino foi utilizada por William Paley, em 1802, em seu livro Teologia Natural, cujo argumento é a analogia do relojoeiro, que no século XIX, é a base da teologia natural, ou entendimento da "mente de Deus".

Por meio deste movimento e incentivado pela descoberta de fósseis e observações de espécies, Darwin escreve “A Origem das Espécies”, em 1859.

O termo DI é encontrado em uma edição de 1847 da revista Scientific American, e em um livro escrito por Patrick Edward Dove, de 1850 e até em uma carta de Charles Darwin datada de 1861.

A termo também foi utilizado pelo botânico George James Allman em um discurso no encontro anual da Associação Britânica para o Avanço da Ciência de 1873.

Em 1925, a Lei Butler baniu o ensino da TE. O Butler Act proibiu o ensino de qualquer teoria que negasse "a história da Divina Criação do homem" (de acordo com a Bíblia), o que foi interpretado como uma violação das liberdades civis (o célebre "Caso Scopes").

O professor John T. Scopes (Julgamento do Macaco) é processado e condenado por estar violando um Ato da Assembléia Legislativa do Estado (a proibição do ensino da TE). Mas, por detalhes técnicos a sentença foi derrubada, sem ser julgado o mérito da Lei anti-Darwin.

As leis que baniam a evolução resistiram até 1967, quando foram proibidas pela Suprema Corte dos EUA.

Nos anos 60 e 70, entra em campo uma nova geração de criacionistas, que passou a demandar igual tempo para Darwin e para o Gênesis nas escolas. Argumento: a evolução é "apenas" uma teoria, não um fato.

A Creation Research Society, fundada em 1963, toma a linha de frente das organizações criacionistas e consegue aprovar em algumas legislações a exigência de que os livros escolares incluíssem a advertência de que "a origem e criação do homem e seu mundo não é um fato científico". A Bíblia era designada, uma vez mais, como texto de referência. A Associação Nacional do Professores de Biologia recorre e vence na Suprema Corte em 68.

O caso Epperson X Arkansas, julgado em 1968, em que a Suprema Corte Federal estabeleceu que a TE pode ser ensinada nas escolas, dado que é científica, mas não o criacionismo, uma crença religiosa e, portanto, viola a 1a emenda da Constituição que determina a separação entre Estado e igreja.

Os criacionistas, então, mudam de estratégia. Já que a teoria da evolução não podia ser banida, passam a lutar por igual tempo para a "creation-science" e para a "evolution-science". É aqui que entram em cena o citado Morris e seu fiel escudeiro Duane Gish (um PhD em bioquímica, astro dos debates antievolucionistas), organizando o Creacion-Science Research Center, em 1972, junto ao Christian Heritage College de San Diego, na Califórnia.

Nos dois anos seguintes, eles espalham os livretes Science and Creation (destinados a alunos de 1.a a 8.a séries) em 28 Estados.

A "ciência da criação", sustentavam, deve ter proporcionalmente o mesmo espaço reservado à "ciência da evolução" nos currículos escolares.

Ao mesmo tempo, o CSRC desenvolve campanhas em que atribui ao evolucionismo a "decadência moral dos valores espirituais", a "destruição da saúde mental" e o aumento dos divórcios, do aborto e, até, das "doenças venéreas"! (R. Numbers, coletânea citada).

James Horigan em 1979 no livro "Chance or Design?" também utiliza-se do termo DI, sendo que tal termo também fora utilizado por Fred Hoyle, em 1982, no que se refere à panspermia.

Em 1981, a Loisiana aprova a Lei de Tratamento Equivalente da Ciência da Evolução e da “Ciência da Criação” para a educação em escolas públicas, sendo que em mais de 25 estados, legisladores se engajam em projetos a fim de que a criação recebesse o mesmo status da ciência.

Ainda em 1981, foi julgado o caso de McLean X Arkansas, onde se processou o estado do Arkansas pedindo que o criacionismo fosse ensinado nas escolas como uma teoria alternativa à evolução. O juiz Overton julgou então se criacionismo era ciência, e decidiu contra.

As testemunhas foram: o paleontólogo Stephen Jay Gould, o biólogo e geneticista Francisco Ayala e o filósofo Michael Ruse, entre outros. O juiz federal William Overton proferiria uma sentença memorável (reproduzida em But is it science?, cit.) em que, definindo o que é ciência, concluiu que o conceito era inaplicável à autodenominada creation-science.

Descritivamente, escreve Overton:

"Ciência é o que é aceito pela comunidade científica" e "o que os cientistas fazem". E completa: "mais precisamente, as características essenciais da ciência são:

1) é voltada para as leis naturais;
2) deve ser explicativa em relação às leis naturais;
3) é testável no mundo empírico;
4) suas conclusões são provisórias, isto é, não constituem necessariamente a palavra final;
5) é falsificável".

São características que faltam à "ciência da criação", explica o juiz, porque esta faz referência a uma intervenção sobrenatural, a um Criador que teria gerado o universo a partir do nada (creatio ex nihilo), ou seja, conforme escrito nos primeiros 11 capítulos do Gênesis.

A creation-science é, na verdade, religião, posto que seus argumentos não são explicativos em relação à natureza, não são testáveis nem falseáveis. Em poucas palavras, pertencem ao terreno da fé. Era inconstitucional, portanto, a lei do Arkansas, por violar a separação constitucional entre Estado e religião.

No caso Edwards X Aguillard, julgado em 1987, a Suprema Corte se pronunciou no sentido de que os Governos deveriam manter neutralidade na questão religiosa, sob pena de violarem a Constituição, especialmente a cláusula de estabelecimento da 1a Emenda e a 14a Emenda.

Com todas estas derrotas judiciais, os grupos religiosos se desdobram para tentar revestir suas convicções criacionistas de roupagem científica. É daí que brotam teses esdrúxulas como a do DI, já que a Constituição afirma que a escola pública não pode ensinar religião, é preciso transformar a fé em ciência.

E, infelizmente, é isso que faz o neocriacionismo. Os proponentes do DI propagam suas idéias por meio do Discovery Institute, de Seattle. Essa organização, que tem orçamento anual de US$ 1,1 milhão, é majoritariamente financiada por fundações cristãs conservadoras.

Assim, ao final do século XX e no início do XXI, surge o DI ou teologia natural modernizada, cuja estrutura do trabalho tem objetivo duplo: contestar a Teoria da Evolução (TE) e provar o design na natureza.

Em 1989 é publicado "Of Pandas and People", revisado por Behe em 1993, em cujos esboços, praticamente, todas as derivações da palavra "criação", alusivas ao "criacionismo", foram substituídas pelas palavras "design inteligente". Este livro apregoa a idéia de o DI ser uma “alternativa” à TE.

A sentença sobre o caso Edwards X Aguillard influenciou o jurista Phillip E. Johnson, que, no ano de 1991, em seu livro “Darwin on Trial”, defendeu a permissão inferências sobrenaturais de criação na ciência, em combate ao naturalismo metodológico do método científico e, assim, substituí-lo pelo “realismo teísta”, conforme o documento Wedge Strategy ou Estratégia da Cunha.

Seus objetivos são:

· derrotar o materialismo científico representado pela TE;
· reverter a sufocante visão de mundo materialista e substituí-la por uma ciência consoante com as convicções cristãs e teístas;
· afirmar a realidade de Deus;
· renovar a cultura americana moldando a política pública para refletir os valores cristãos conservadores.


Em 1995, o Discovery Institute financia o Centro para a Renovação da Ciência e Cultura (CRCC), cujo propósito é o de promover a busca pelo movimento do DI, via apoio político e público, a fim de estabelecê-lo como uma “visão alternativa” à TE, baseada na criação.

Ou seja, a função do Discovery Institute é trazer Deus para explicar cada dificuldade que surja no caminho da biologia ou da física, criando toda uma argumentação pró-deus das lacunas.

Desde 1995, Arizona, Alabama, Illinois, Novo México, Texas e Nebraska tentaram excluir a evolução dos currículos. Em 1996, os criacionistas do Alabama conseguiram incluir nos livros escolares de ciência uma advertência chamando a teoria da evolução de controversa, alegando que ninguém estava presente quando a vida surgiu na Terra.

Com o crescimento do DI, em agosto de 1999, o Ministério da Educação do Kansas votou pela eliminação da evolução do currículo escolar de ciências. Em 2001, pressionado pela opinião pública, o Estado do Arkansas voltou atrás.

Esta infame decisão da Junta de Educação de eliminar as referências à evolução do currículo de ciência foi fortemente influenciada por proponentes da teoria do design inteligente.

William A. Dembski, uma das figuras mais proeminentes do movimento, afirma que a "detectabilidade empírica das causas inteligentes provê ao design inteligente o posto de teoria científica completa", (isso é falso conforme veremos adiante).

Os proponentes do DI investem a maior parte de seus esforços em convencer os políticos e o público, não a comunidade científica.


Em 2002, o Conselho de educação do Condado de Cobb na geórgia cedeu às demandas criacionistas e afixou em livros de biologia etiquetas que descrevem a TE como uma teoria, não como fato, mantendo-se silente em relação ao criacionismo.

Cinco pais do Condado propuseram demanda na Corte Distrital (caso Selman X Jurisdição Escolar do Condado de Cobb) alegando inconstitucionalidade da política que exigia a afixação destas etiquetas. O pedido foi acatado pelo juiz e deferido a favor dos pais.

Em 2004, o Conselho de Alunos da Área de Dover, decidiu que todas as escolas públicas no distrito ensinassem DI em conjunto com TE nas aulas de ciências. Em 2005, esta questão culminou no "julgamento de Dover" (caso Kitzmiller X Dover Area School District).

O Juiz Distrital John E. Jones III proferiu sentença cujo mérito afirmava “o DI não ser ciência, e não estar livre de seus antecedentes criacionistas religiosos, além de violar a Cláusula de Estabelecimento da Primeira Emenda da Constituição dos EUA”.

Na Europa, o movimento DI não tem sido bem recepcionado. Em junho de 2007, o “Comitê sobre Cultura, Ciência e Educação” do Conselho da Europa emitiu um relatório, "The dangers of creationism in education", que atesta serem as formas de criacionismo, inclusive o DI, inadequadas ao ensino em aulas de ciências.

O DI foi classificado como “ostensiva fraude científica” e “dissimulação intelectual” que “macula a natureza, objetividade e limites da ciência”.

Ainda em 2007, Assembléia Parlamentar do Conselho da Europa aprovou uma resolução que escolas deveriam “resistir a apresentações de idéias criacionistas, incluíndo o DI, em qualquer disciplina que não seja religião”, sendo o DI “a última, e mais refinada versão do criacionismo, apresentado de uma forma mais sutil”. O objetivo do relatório é alertar contra certas tendências de passar uma crença como ciência.

Em junho de 2008, o governador Bob Jindal transforma o Projeto de Educação científica da Louisiana em lei, a qual é propagandeada como apoio ao pensamento crítico em salas de aula. Tal lei ameaça abrir–se ao criacionismo e a críticas sem fundamento científico contra a TE, nas aulas de ciências do ensino público.

No Brasil, segundo o professor de sociologia da USP Antônio Flávio Pierucci, os criacionistas têm pouca força por aqui e ha uma tendência de simpatia pela TE, mas nada pode atestar em definitivo, pois até então não foram feitas pesquisas acerca do assunto.

Todavia escolas confessionais como o Mackenzie e Pueri Domus têm ministrado nas aulas de ciência o criacionismo.

O Mackenzie o ministra para crianças de 6 a 9 anos de idade, por meio do material “Crescer em Sabedoria”, em cuja capa do volume do terceiro ano estava estampado “Ciências – Projeto Inteligente”, em uma alusão ao DI, material este oriundo da Associação Internacional de Escolas Cristãs (ACSI) com sede no Colorado, Estados Unidos.

A posição do Ministério da Educação é a de que o criacionismo deve ser ministrado em aulas de religião e não de ciências , todavia o Ministério não pode intervir na autonomia da programação das escolas.

Ambas as escolas argumentam que tal prática permite aos alunos um “pretenso posicionamento”!?

Porém, foi em 2004 que o criacionismo teve impulso no Rio de Janeiro (Governo de Rosinha Mateus), ao tentar implantar o criacionismo no ensino público (aqui).

A Secretaria de Educação do Rio de Janeiro definiu, em 2004, que o tema anual para as aulas de religião na rede pública será “criação” e que o criacionismo será discutido de forma superficial, o que não esconde a tendência eminente a negligenciar a explicação cientificamente embasada oferecida pela teoria evolucionista.

A posição de Rosinha Matheus incomodou a comunidade científica brasileira, de onde partiram críticas de cientistas de renome, como Ennio Candoti, físico e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que afirma (apud FRANÇA, 2004):

A teoria criacionista, em contraponto ao evolucionismo, não se sustenta. Pode até gerar confusão na cabeça do aluno. É uma propaganda enganosa. É uma instrumentalização pouco ética de usar o poder político para impor tendências, induzir à propagação de crenças ou leituras particulares de textos tradicionalmente sagrados.

O projeto causou polêmica (aqui), principalmente entre a comunidade científica, e foi oficialmente implantado, mas não vingou.

No Brasil, há poucas estatísticas sobre o assunto, mas, pode-se notar um grande avanço criacionista nas aulas de ciências das escolas evangélicas. Dessa forma, os dogmas da bíblia estão em alta no meio educacional, principalmente em escolas evangélicas como o Colégio Adventista (veja aqui).

Uma pesquisa nacional realizada pelo Ibope BUS em dezembro de 2004, com pessoas com idade acima de 15 anos, a pedido da revista Época (apud BRUM, 2005b), revelou o quanto o pensamento da população brasileira se encontra atrelado a pressupostos dogmáticos e mitológicos.

Questionadas quanto à criação e o “desenvolvimento” do homem, 31% das pessoas disseram acreditar que Deus criou o ser humano - já na forma que este hoje tem – dando-se isso há cerca de 10 mil, enquanto que 54% crêem que o homem vem se desenvolvendo ao longo de milhões de anos – porém, existe um planejamento divino por trás dessa trajetória – e apenas 9% das pessoas ouvidas não acredita que há um Deus envolvido na criação e desenvolvimento do homem.

No tocante à tese criacionista, 89% das pessoas entrevistadas acha que a mesma deve ser ensinada nas escolas, com 75% sugerindo que o criacionismo deve ser ensinado nas escolas no lugar do evolucionismo.

Mais detalhes sobre a cruzada criacionista aqui.


3- A ARGUMENTAÇÃO-BASE DO DI:

Os argumentos do DI são basicamente três (complexidade irredutível, complexidade especificada e lei da conservação das informações), porém, vale inserir a prova do Design , proposta por Dembski, o comentário de Jonathan Wells e as idéias de Lee Spetner.


3.1 - Complexidade irredutível:


Foi proposta por Behe em “Darwin´s Black Box”. Esta afirma que há estruturas biológicas que não poderiam ter evoluído de um estado mais simples. Behe expõe três exemplos: o flagelo bacteriano, o olho e o sistema de coagulação.

Os sistemas irredutíveis estabelecem que a base da vida, no caso as moléculas orgânicas primitivas, não podem surgir por acaso, mas sim por intermédio de uma ação externa que iniciaria o processo, ou que interviesse em certos estágios do processo evolutivo. Porém, tal ação inteligente é indetectável, diferentemente das ações inteligentes humanas.

Entretanto, esta argumentação, foi refutada em artigos de pesquisa revisados por pares e foi rejeitado pela comunidade científica em geral.

O mesmo vale para os exemplos citados por Behe como irredutíveis, baseados em uma compreensão errônea do funcionamento dos sistemas biológicos, o que é considerado como argumento da ignorância. Maiores detalhes, consultar aqui e aqui.


3.2 - Complexidade especificada:

Foi proposta por Dembski; significa que um sistema não pode ter ocorrido por acaso e não é resultado de nenhuma lei natural que diz que ele deve ser do jeito que é. Um sistema biológico apresenta complexidade especificada se ele atender a três critérios:

· sua composição não é apenas o resultado de uma lei natural;
· sua composição é complexa;
· sua composição reflete uma "especificação ou padrão independentemente dado".


O argumento em si é falho, pois apresenta uma hipótese negativa. O acaso, as leis naturais, a necessidade e o design não se excluem mutuamente, e não são as únicas possibilidades.

Assim, não se pode aplicar o processo de eliminação, o qual não é aceito pela ciência como prova de alguma coisa, pois não se pode provar uma coisa simplesmente negando outra. Isso é argumento da ignorância. O método científico requer evidências positivas.

O design parece precisar de conhecimentos prévios do padrão especificado. Ao se lidar com estruturas como DNA, não há padrões externos reconhecíveis e, portanto, não há qualquer forma de detectar se um padrão ocorre por acaso ou propositadamente.

Assim, as analogias de Dembski no que se refere ao filme “Contato” se tratam de pistas falsas, pois haveria a necessidade de conhecimento prévio sobre a natureza dos sinais de rádio e de outros processos naturais junto com assumir que uma seqüência de números primos é o tipo de padrão que outro cientista escolheria enviar como um sinal.

Entretanto, as seqüências estranhas encontradas no DNA são muito diferentes das séries de números primos. Dembski não tem nenhuma forma de mostrar que os padrões genéticos foram “montados a priori” ou "dados independentemente".

Logo, o processo de Dembski para detectar o design pressupõe design, logo, também é petição de princípio.


3.3 - Lei de conservação de informações:

Também proposta por Dembski. Envolve equações matemáticas complexas e detalhadas, que estabelecem a natureza não poder criar informações novas (por exemplo, as informações contidas no DNA). Logo a natureza apenas trabalha com informações já existentes. Portanto, uma espécie mais complexa, que contenha mais informações, não pode ter evoluído de uma espécie menos complexa.

Resta saber qual o conceito de informação para Dembski. Caso se refira a genes, esta tese não encontra respaldo, uma vez que estes se duplicam conforme segue:

Parálogos: são genes que se relacionam por meio de duplicação gênica no organismo parental ou em um dos seus descendentes, que podem realizar a mesma função ou podem divergir após a duplicação e realizar função distinta ou atuar em substratos distintos.

Ortólogos: são genes equivalentes em dois organismos diferentes que descendem diretamente do mesmo gene do antecessor comum dos dois organismos e que realizam a mesma função molecular ou celular. Genes ortólogos podem encontrar-se no mesmo contexto em genomas de organismos similares.

Ortologia e Paralogia são guias para analisar a informação de um genoma completo frente a outro. A ortologia verifica-se com a sintenia (conservação da ordem e orientação dos genes em genomas de organismos relacionados).

Também, nem sempre uma espécie mais complexa é detentora de um genoma maior, segundo o biólogo Fernando Reinach. Ou seja, maior complexidade não significa mais informação genética (e.g. determinada espécie de ameba tem mais material genético que um ser humano, enquanto camundongos e pessoas têm número parecido de genes).

As afirmações aventadas por Dembski, no que concernem à relação entre informação e complexidade da espécie e conservação da informação, são falhas, conforme demonstrado acima.

Assim, este se trata do mesmo argumento criacionista de que a TE viola a segunda lei da termodinâmica, (tendência natural para a redução da complexidade - aqui e aqui).

Façamos uma breve digressão para a entropia.

A segunda lei pode ser expressa de diversas formas, porém, para a discussão referente à vida, há que se considerar o fato de que nas transações de energia que ocorrem no mundo natural, a proporção de energia desordenada ou calor, tende a aumentar. Esta medida de desordem, em física, se denomina entropia. Todavia não é o mesmo que caos.

A entropia se define em termos de estados microscópicos de átomos e moléculas e se relaciona ao calor diretamente. Ao derreter um cubo de gelo, este teve a estrutura de seus cristais de gelo desintegrada e, no caso de um gás se espalhar dentro de uma sala, a partir de um balão de ensaio, este perdeu seu estado concentrado.

Em ambos os casos há um grau maior de uniformidade ou mistura e, portanto, de desordem microscópica.

Cubos de gelo não se refazem espontaneamente e tão pouco o gas é isolado da mesma forma. Ambos os processos requerem trabalho, seja para retirar o calor da água, seja para isolar o determinado gás novamente no balão de ensaio.

Processos naturais seguem para a direção de maior número de estados microscópicos equivalentes, em busca da uniformidade.

A vida, isolada de sua vizinhança, entretanto, parece caminhar em oposto aos sistemas naturais, pois demonstra impressionante grau de organização. Entretanto, organismos vivos e células não se tratam de sistemas fechados, uma vez que consomem matéria e energia a partir do meio em que vivem.

Dessa forma, a segunda lei aplica-se apenas aos sistemas fechados, não aos sistemas biológicos ,os quais são abertos. O resultado global do metabolismo (entre o organismo e a vizinhança) é uma entropia positiva, ou seja, mais energia desordenada, embora tenha havido a criação de estruturas organizadas.

Assim, o funcionamento da vida depende de informações contidas no arranjo da matéria, ou seja, no número necessário de passos para especificar uma estrutura. Para a atuação do acaso na formação de um polipeptídeo, apenas necessita-se saber qual a proporção dos aminoácidos que o formam.

Mas para uma enzima, há que se conhecer quais aminoácidos a formam e em que sequência se encontram. Desse modo, a enzima possui um conteúdo de informação maior que o polipeptídeo.

A vida assume o controle da matéria pré existente e a organiza e reorganiza. Caso ocorra estruturas com organização específica, isso corresponderá a um aumento de informações.

Mas isso apenas se trata de um desvio temporário do aumento universal da entropia e da dispersão da energia. Os seres vivos (vegetais) reduzem a radiação solar, água e gás carbônico a moléculas de açúcares, sendo que parte da energia solar se encontra armazenada como energia das ligações químicas.

Outro organismo devora o vegetal e toma esta energia como combustível para mantê-lo vivo e, assim formar suas estruturas e se reproduzir.


Durante a reprodução dos seres vivos, há alteração do material genético, pois o mecanismo de cópia do DNA não é perfeito. Há perda de informação na tradução. Agentes físicos, químicos e biológicos podem causar mutações, porém na maioria das vezes, tais mutações são inócuas.

Também, não necessariamente a evolução caminha para a complexidade, podendo haver simplificações (ex. habitantes de cavernas que perdem a visão).

Devido à imperfeição nas cópias de DNA durante a reprodução, há variações (mutações) bem ou mal sucedidas que serão selecionadas pelo meio. Acumulações de pequenas mudanças (microevolução) podem levar a variações substanciais no funcionamento e na forma e, portanto, a novas espécies (macroevolução). Este é o mecanismo da seleção natural.

Portanto, no processo evolutivo, um aumento na complexidade biológica não representa um “almoço grátis”. O aumento na informação (ortologia e paralogia) foi comprado e pago, devido à variação genética ao acaso estar sujeita a seleção natural pelo ambiente, o qual já está estruturado.

De fato, os pesquisadores estão começando a usar os processos darwinianos, implementados em computadores ou in vitro, para evoluir sistemas complexos e para prover soluções aos problemas de design em formas tais que estão fora do poder de meros agentes inteligentes.

As hipóteses nebulosas de design de Dembski, ainda se as restringirmos aos processos naturais, provêem pouquíssimo material que possa ser examinado, e uma vez que os processos sobrenaturais servem de calço ao processo, este perde qualquer chance de ser testável, o que faz com que o caráter científico da proposição aqui examinada (lei da conservação das informações) caia por terra.


3.4 - Prova do Design:


Dembski elaborou o que, para ele, é um método infalível para detectar design. Esse método é um processo de eliminação que faz três perguntas sobre tudo que é encontrado na natureza:

· há uma lei que o explica?
· o acaso o explica?
· o design o explica por default?

O processo acima requer a mesma resposta ao argumento da complexidade especificada. Não se trata de um teste positivo para o design, mas sim um teste negativo para eliminar o acaso e a necessidade.

Também, leis, necessidade, acaso e design não são premissas mutuamente exclusivas e, tão pouco, processos de eliminação levam a alguma conclusão definitiva no mundo da ciência.

Conforme dito anteriormente, na ciência necessita-se de provas positivas a fim de que possamos tirar alguma conclusão. Ou seja, há que se confirmar a tese e não excluir possibilidades e buscar automaticamente a confirmação daquilo que sobrou, pois poderá haver outras possibilidades que não aquelas com que estamos lidando.

O exemplo clássico disso é o antigo exame de sangue para determinar paternidade. O exame apenas excluia possibilidades, mas não determinava quem era o pai da criança.

Grosso modo, segue o exemplo: Meu sangue é O+ e o de minha mãe também é O+.


Um sujeito com sangue AB jamais poderia ser meu pai, mas sujeitos A+, A-, B+, B-, O+ e O- poderiam ser meus pais. É claro que tal exame envolve outros fatores além do fator Rh e do ABO. Mas mesmo assim, suas conclusões não são seguras, pois está baseado na exclusão.

Há que se verificarem outros antecedentes que não de natureza científica, mas da vida pessoal dos envolvidos.
Ou seja, é uma prova por exclusão, baseada em indícios que não confirmam de fato nossa tese.

Quanto ao exame de DNA, este traz a prova positiva da paternidade e, portanto, é possivel se tecer uma conclusão segura, pois nossa tese de paternidade se confirma.

Além disso, o argumento do DI não é empírico, pois não é possível testar, nem contestar, a presença do design. Dessa forma, por ser impossível de ser testável, o argumento do DI é, em vez de científico, meramente filosófico-metafísico.


3.5 - Jonathan Welss e os problemas da TE:

Wells afirma que "muitas características dos organismos vivos parecem ter sido projetadas”.

Aqui, Wells retorna a noção pré-darwiniana de design. Todavia, Darwin propôs uma resposta não religiosa, mas natural para a forma em que os organismos encaixam em seus ambientes que é o resultado da seleção natural. Como todas as explicações científicas, a TE se baseia na causalidade natural.

Também afirma que "a teoria de Darwin não pode dar conta de todas as características dos seres vivos."

Obviamente que não há motivos para isso ocorrer. Atualmente os cientistas explicam as características dos seres vivos não só via seleção natural, mas por uma série de processos biológicos que Darwin desconhecia, tais como a transferência de genes, a simbiose, a recombinação cromossômica, e a ação de genes reguladores.

Ao contrário do que Wells afirma, a teoria evolucionista não é inadequada. Ela encaixa muito bem com a evidência.

Wells admite que a seleção natural pode operar em uma população e corretamente vê a genética como responsável por este tipo de variação que pode levar “novas características em novas espécies”. Mas ele afirma que as mutações, tais como aquelas que produzem as moscas com quatro asas, não produzem o tipo de mudança necessária para mudanças evolutivas maiores.

Wells ignora o principio encerrado nos genes, denominados como complexo Ubx, os quais têm uma importância extraordinária. Tais genes ajudam a explicar os diferentes tipos de planos corporais, os quais representam as diferenças básicas estruturais entre um molusco e um mosquito, entre uma esponja e uma aranha.

Os genes Ubx são parte dos genes HOX, os quais se encontram em animais tão diferentes como esponjas, moscas de fruta e mamíferos. Eles ativam ou desativam genes envolvidos em, entre outras coisas, segmentação e produção de apêndices tais como antenas, patas e asas. O que especificamente é construído depende de outros genes mais tarde no processo.

Os diversos planos corporais dos artrópodes (insetos, crustáceos, aracnídeos) são variações dos temas da segmentação e dos apêndices, variações que parecem ser o resultado de mudanças nos genes HOX.

Pesquisas recentes mostram que os genes Ubx das moscas suprimem a formação de patas nos segmentos abdominais, mas os genes Ubx dos crustáceos não fazem isso. Uma pequena mudança no Ubx resulta em uma grande diferença no plano corporal.

As mutações nestes interruptores primários estão envolvidas na perda das patas nas cobras, na mudança de aletas lobulares para mãos, e na origem das mandíbulas nos vertebrados. A duplicação dos segmentos iniciada pelos genes HOX permite a duplicação dos segmentos iniciada pelos genes HOX permite a experimentação anatômica e a seleção natural eescolhe os resultados.

Evo-Devo", O estudo da evolução e do desenvolvimento, é uma área muito ativa de investigação científica, mas Wells insinua que tudo que isto produz são moscas de fruta aleijadas.

Wells argumenta que as explicações naturais são inadequadas e, por isto, que "os estudantes devem “aprender” que o design permanece como uma possibilidade."

Na lógica de Wells, o design implica um Designer, o que se traduz em recomendar de fato que a ciência permita a causalidade não natural. Em ciência procuramos explicações com que trabalhar. Mas, caso que não as tivéssemos, teríamos de nos contentar com ferramentas para explicar as coisas em termos de causalidade natural. Isso foi o que Darwin fez e o que se faz hoje.

3.5 - Lee Spetner e sua má compreensão sobre a TE:

Gostei do tema. Por ser meio grande, uma vez que tratou-se da resenha de seu livro "Not by Chance", preferi fazer um tópico aparte. Aos interessado, este tópico se denomina "O Engodo de Lee Spetner".

Mas adianto que não foge ao que Dembski coloca em sua teoria da conservação da informação.

4 - CONCLUSÃO:

De acordo com o acima exposto, seja cientifica (inverdade das premissas) ou logicamente (falha na estrutura de raciocínio), o DI não merece qualquer crédito, exceto se relegado a questões filosófico-metafísicas, porém, sem valer-se da lógica formal (utilizada pelas ciências naturais e matemáticas) como estruturação do raciocínio, pois é patente a falha de suas proposições, conforme visto acima.

Quanto a questões de cunho dialético, não ha problemas, pois se pautam no convencimento, sem considerar a veracidade de suas premissas.

É obvio que os argumentos criacionistas do "tratamento equilibrado" e da "equidade" não passam de uma cortina de fumaça. O que eles realmente querem é usar a lei para introduzir as suas opiniões religiosas nas salas de aula, excluindo todas as outras opiniões.

A "ciência" do criacionismo, em todas as suas nuances, não é ciência e não tem lugar na sala de aula de ciências seja em escola pública ou em escola particular.

O movimento criacionista, no ocidente, em geral, é fortemente influenciado pelo ideal de evangélicos fundamentalistas que, a qualquer custo, desejam implantar suas idéias e valores a toda a sociedade, uniformizando sua forma de pensar e fazer o relógio científico do mundo retroceder à idade das trevas.

É de se admirar que no século XXI ainda ocorra a supressão da informação e da liberdade de crença ou descrença do indivíduo, conforme fato ocorrido na Turquia contra o site de Richard Dawkins, em que o fanático islâmico Adnan Oktar, idealizador do "Atlas da Criação" conseguiu uma vitória na justiça de seu país. Isso foi uma vitória do fundamentalismo contra a razão, a liberdade de crença e a liberdade de informação.

Não são por meio de batalhas judiciais, lobies com políticos, declarações de personalidades, ou imposições de fundamentalistas, a fim de que se elaborem leis pró-criacionismo, em todas as suas nuances, que trarão validade a estas pseudo-teorias científicas.

Tão pouco, estratégias retóricas sem qualquer fundamento científico são o meio mais eficaz para se sustentar uma teoria. Tanto o criacionismo quanto o DI se valem de estratégia não de demonstração científica de seus argumentos, mas de ataques contra a TE. Ou seja: “Se a TE está errada, automaticamente o DI está validado”.

Não é por ai. A forma com que uma teoria se sustenta e ganha credibilidade é por meio do escrutínio científico. Entretanto, este é rígido e pseudociência não passa.

Os objetivos estabelecidos por “The Wedge” se tratam de uma oposição extremamente fundamentalista em prol de assegurar valores subjetivos em detrimento de outros, bem como da ciência, que é a melhor fonte de conhecimento objetivo que a humanidade possui.

Também, a argumentação do DI não passa de alusão ao princípio antrópico fraco, uma vez que é tão tautológica quanto: “A vida é capaz de existir porque o Universo é capaz de suportar vida”. Todavia, se tais condições fossem diferentes, poderia haver um Universo diferente, com formas de vida diferentes, mas isso já é outra história...

Sempre que se verifica a existência de uma obra que requereu ação inteligente, restam as perguntas “Quem é esta forma inteligente e onde ela se encontra?”

Mas a TDI não pretende identificar a fonte de inteligência, embora conclua que a vida na Terra foi desenhada por um ser inteligente, ou seja, é irrelevante confirmar o que a teoria estabelece como sua conclusão.

Invocar um ser inexplicável para explicar a origem de outros seres ou estabelecer que uma observação identifica uma ação inteligente é petição de princípio, pois a conclusão se trata de uma das premissas do raciocínio, além de ser um salto epistemológico gigantesco.

Mas como estabelecem os “proponentes do DI”:

“Isso tudo é irrelevante...”.

Resposta aqui.

Creio que não seja opção saudável nem das mais indicadas darmos azo ao fundamentalismo religioso, uma vez que isso é contrário ao que preceitua nossa Constituição, bem como é contrário aos direitos de liberdade do indivíduo, além de ser um estelionato intelectual e criminoso.


Leitura recomendada:

BRANCH, Glenn e SCOTT, Eugenie. Manobras mais Recentes do Criacionismo. SCIAM – Brasil. fev. 2009.

CARROL, Sean B. Infinitas Formas de Grande Beleza. Ed. Jorge Zahar.

COLLINS,Francis. A Linguagem de Deus. Ed. Gente.

DAWKINS, Richard. O Relojoeiro Cego. Ed. Companhia das Letras.


DAWKINS, Richard. A Grande História da Evolução. Ed. Companhia das Letras.


DOMINGUEZ, Angel. Anotação de genomas e bases de dados de fungos. Universidade de Salamanca.

GOULD, Stephen Jay. O Polegar do Panda. Ed. Martins Fontes.

IMPEY, Chris. O Universo Vivo. Ed. Larousse.

SOUZA, Sandro. A Goleada de Darwin. Ed. Record.

ZIMMER, Carl. A Beira D´Água . Ed. Jorge Zahar.

2 comentários:

Luiz Claudio Santos de Souza Lima disse...

Resposta a altura do blog. Uma coisa difícil ao debater com determinados criacionistas, não todos; são a sua falta de honestidade. É algo que sempre subverte a lógica em nome da fé. Algo do tipo" fé cega, faca amolada" .....

Míope sem óculos disse...

Belo post!

Parabéns!