terça-feira, 19 de agosto de 2008

UM POUCO MAIS DE DESSERVIÇO CRIACIONISTA





Novamente encontramos o festival retórico anti-evolução sob a denominação
Darwinianismo.

O texto me soa muito interessante, exceto pelos comentários onde mais uma vez a retórica utilizada é a clássica de círculos criacionistas.

Há que se comentar também a postura estranha do autor Michael Dowd no que se refere a procurar causas que o isentem de sua culpa pessoal.



Ao que parece, as doutrinas religiosas não surtiram o efeito esperado para seus dramas de consciência, sendo que uma explicação naturalista se fez necessária para o seu conforto pessoal.

Tambem ressalvo que, a respeito dosos erros ora cometidos quando dos comentários, quero crer tenham sido não intencionais, ocasionados pela mera falta de conhecimento a respeito da disciplina, em vez da pura má fé de que se valem aqueles que dizem ter credenciais científicas e são ferrenhos defensores do criacionismo e de seu correlato o DI.

Vejamos o texto:

Nos últimos seis anos, o "pastor evangelista" Michael Dowd tem ido de púlpito a púlpito pregando o evangelho - não, não as boas-novas da salvação através de Jesus Cristo, mas da libertação e autoridade através de Charles Darwin. O que isso significa? "[Darwin nos dá] um modo muito mais empírico de falar sobre a natureza humana do que através de histórias como a do pecado original."

Como Yudhijit Bhattacharjee do New York Times escreve: "Explica nossas fragilidades, nossos vícios, nossas infidelidades e outras deficiências morais como subprodutos da adaptação ao longo de bilhões de anos. E isso, [Dowd] diz, tem um efeito potencialmente libertador: não importa a culpa; uma vez que entendamos nossos caminhos pecaminosos, podemos deixá-los e desempenhar um papel consciente na evolução da humanidade."

Considere Bob Miller, um octogenário cuja seqüência de infidelidades, décadas atrás, o levou ao divórcio, exatamente quando estava ascendendo à escada da corporação. Por anos Miller lutou para entender seu comportamento e as forças por trás disso. Então, em uma cruzada, Dowd veio à igreja de Miller. Lá, o Reverendo "explicou" a origem evolutiva do comportamento humano, e "Eureka!": Miller entendeu que a culpada por suas deficiências não era sua natureza caída, mas a testosterona elevada, adquirida por seu sucesso combinado. Liberto do fardo da culpa, Miller reflete: "Eu acho que a mudança física em meu corpo foi tão forte que ela subjugou qualquer ensino moral e crença religiosa que eu tive."

Agora você compreende - a ciência explica! Não é do coração que os maus pensamentos, assassinato, adultério e imoralidade sexual vêm; é de uma lei física trabalhando em nossa química. Você se sente melhor agora?

A Teoria da Evolução realmente traz explicações bem mais lógicas que balelas míticas como pecado original e Gênesis para explicar o mundo como ele realmente é.

Hoje pode-se mesmo afirmar que comportamentos são condicionados por genes, aprimorados ao longo de bilhões de anos de evolução.


Daqui para adiante entrtaremos no rol das falácias e má retórica criacionista.

Agora Michael Dowd está vendendo seu novo livro Thank God for Evolution (Graças a Deus pela Evolução) com "Fatos que são a língua nativa de Deus". É uma boa frase de efeito! Realmente, os fatos são a língua nativa de Deus; fatos como:

• A evolução darwiniana nunca foi observada ou reproduzida mesmo em microorganismos cujos índices explosivos de réplicas garantiriam sua validade.

Errado.

Basta nos remetermos a cepas de bactérias no que se refere á resistência a antibióticos e a anti-sépticos.

Caso bactérias não evoluíssem, ou seja, caso o meio não as selecionasse, não haveria necessidade de nos valermos do amplo espéctro de antibióticos atualmente desenvolvidos pela indústria farmacêutica.


O mesmo pode ser aplicado aos diversos tipos de vírus como HIV ou influenza, estes principalmente têm evoluído ao longo de gerações.

Na natureza, podem ser citados os casos da Rana Pipiens e da Podarcis Sicula, além do vasto registro fóssil até então encontrado, bem como análises de genomas das espécies.








• Baseado no acaso, em processo não dirigido, a evolução darwiniana não têm força de predição. Conseqüentemente, a evolução darwiniana não tem contribuído para um único avanço tecnológico ou médico desde que ela foi conjeturada há 150 anos.

Errado.

Mais uma vez vislumbra-se a clara incompreensão do que significa seleção natural. Esta não ocorre por mero acaso, mas de acordo com que o ambiente demanda das espécies.

Mudanças ambientais, ocasionadas em nosso planeta por catástrofes naturais, são eventos condicionados pelo acaso. Mas seleção natural não.

Os genes é que determinam como será nossa espécie de acordo com o meio que ela vive está em seu patrimônio genético.

Basta apenas que o meio selecione aquele que é o fenótipo mais adequado às suas demandas. Caso a espécie nao responda às solicitações do meio estrá fadada à extinção.

Não podemos afirmar quando uma catástrofe irá ocorrer e quais serão seus resultados. Sendo assim, não há como serem feitas predições a respeito de que tipos de espécies irão habitar o planeta daqui a 50 ou 100 mil anos.

Todavia, de acordo com o tipo de catástrofe, baseados em fósseis, podemos fazer algumas predições.

Quanto a afirmação de que a evolução darwiniana não tem contribuído para um único avanço tecnológico ou médico desde que ela foi conjeturada há 150 anos, isso não passa de uma tolice desmedida.
Primeiro: somos capazes de entender mecanismos de determinadas doenças conforme o meio em que ela se desenvolve e assim podemos atacá-la, isolá-la e exterminá-la, exatamente como ocorreu com a varíola.

Ao longo dos anos em que a AIDS apareceu, estamos desenvolvendo coquetéis a fim de inibir a reprodução do vírus, o que pode evitar sua variabilidade.

A indústria farmacêutica tem desenvolvido diversos antibióticos a fim de exterminar bactérias, as quais adquirem resistência aos meios a elas letais.

Segundo: por meio da teoria da evolução nos livramos de explicações metafísicas a fim de entendermos o passado de nosso planeta.

Pôs se fim ao estanque dogmático chamado Deus no que concerne a explicar como as espécies se desenvolveram ao longo de bilhões de anos de seleção natural, tornando, de fato, a biologia uma ciência e não mais um dogma religiosa baseado no livro de Gênesis.

A Teoria Evolucionária (aqui) já foi colocada em uso prático em várias áreas. Por exemplo: Bioinformática, uma indústria multimilionária, consistindo basicamente em comparações entre seqüências genéticas. Descendências com modificações é a mais básica das assunções.

Doenças e pestes evoluem, criando resistência às drogas que usamos contra elas. A Teoria Evolucionária é usada no campo do controle de resistência na medicina e na agricultura, primordial para a nossa sobrevivência.

A Teoria Evolucionária é usada na piscicultura, para aumento de produção.

Seleção artificial tem sido usada desde a pré-história, mas se tornou muito mais eficiente com o uso aplicado da Teoria da Evolução.

O uso aplicado da evolução de parasitas na população humana pode ser usado para guiar a política de saúde pública.

Reprodução sexual, baseado na evolução, foi usada para predizer quais condições o pássaro kakapo iria produzir mais espécies fêmeas, o que o salvou da completa extinção.
  • A Teoria Evolucionária foi e tem sido usada, e tem potencial para muito mais em muitas outras áreas, desde avaliações de plantações geneticamente modificadas até psicologia humana. E mais aplicações com certeza virão.
  • Análise filogenética, que usa o princípio evolucionário de um ancestral comum, já provou ser útil em:
  • Traçar genes cuja função é conhecida e comparando como eles se relacionam com genes desconhecidos, para prever as funções deles, que é o fundamento para descobrir novas drogas.
  • Análises filogenéticas é o padrão para a epidemiologia, já que permite a identificação de centros de doenças, e algumas vezes observar passo a passo a transmissão de doenças. Por exemplo, uma análise filogenética confirmou que um dentista da Flórida estava infectando seus pacientes com o HIV, e que HIV-1 e HIV-2 foram transmitidos aos seres humanos de chimpanzés (Bull and Wichman 2001). Foi usada em 2002 para ajudar a prender um homem que intencionalmente infectava pessoas com HIV. O mesmo princípio pode ser usado para traçar a origem de armas biológicas.
  • Análise filogenética também pode ser usada para traçar a diversidade de uma patologia, e selecionar qual a melhor vacina para uma região em particular.
  • Ribotipagem é uma técnica para identificar um organismo ou pelo menos encontra seu parente mais próximo, mapeando seu RNA ribossômico dentro da árvore da vida. Pode ser usado quando não é possível fazer culturas desses organismos ou reconhecível por outros métodos. Ribotipagem foi usada para encontrar agentes infecciosos de doenças que afetam seres humanos, antes desconhecidos.

Evolução direta permite a “criação” de moléculas e de grupos de moléculas para criar ou aperfeiçoar produtos, tais como:

  1. Enzimas
  2. Pigmentos
  3. Antibióticos
  4. Sabores
  5. Biopolímeros
  6. Bactérias capazes de decompor materiais tóxicos.

Os princípios evolucionários de seleção natural, variação e recombinação são a base de algoritmos genéticos, uma técnica de engenharia que possui muitas aplicações, incluindo engenharia aeroespacial, arquitetura, astrofísica, engenharia elétrica, finanças, geofísica, engenharia de materiais, robótica e sistemas de engenharia.

A boa ciência não requer necessariamente a aplicação prática do estudo, além ir em busca da verdade objetiva.

Várias ciências não tem muita aplicação prática, além da curiosidade, tais como astronomia, geologia, paleontologia e história natural. O conhecimento por si já é o suficiente.

Acredito que as explicações acima tenham elucidado a falta de conhecimento do comentarista acerca das utilidades relacionadas à teoria da evolução.


Para finalizar, idéias criacionistas, religiosas e ideologias existem há milênios e até hoje não tiveram nenhuma contribuição prática para a sociedade a não ser ludibriar, mentir, escravizar, pregar o ódio, a intolerância, a ignorância, o preconceito, valer-se da má fé em relação aos leigos, buscar a desclassificação do conhecimento com caráter científico, utilizar ardis em suas explicações e gerar a culpa na mente das pessoas, salvo raras exceções.

• A informação, como a encontrada no DNA, é conhecida empiricamente por se originar somente de causas inteligentes.

Errado.

Tudo na natureza possui uma razão para ser. Moléculas formam-se de acordo com as propriedades de seus átomos e por atuação de fatores físico-químicos.

DNA pode ser artificialmente criado (Veja aqui).

Não há qualquer afirmação ou estudo de cunho científico que vá ao encontro da afirmação acima.

• Não tem havido tempo suficiente para o gene mais simples, muito menos para o organismo mais simples, desenvolver-se de um processo não inteligente, mesmo que sejam dados todos os ingredientes químicos necessários.

Não há qualquer afirmação ou estudo de cunho científico que vá ao encontro da afirmação acima.

Aqui há uma boa explicação sobre genes, abaixo transcrita:

O gene é a unidade fundamental da hereditariedade. Cada gene é formado por uma seqüência específica de ácidos nucléicos (biomoléculas mais importantes do controle celular, pois contêm a informação genética. Existem dois tipos de ácidos nucléicos: ácido desoxirribonucléico – DNA- eácido ribonucléico– RNA).

Os genes controlam não só a estrutura e as funções metabólicas das células, mas também todo o organismo. Quando localizados em células reprodutivas, eles passam sua informação para a próxima geração.

Quimicamente, cada gene é constituído por uma seqüência de DNA que forma nucleotídeos (compostos ricos em energia e que auxiliam os processos metabólicos, principalmente, as biossínteses na maioria das células).

Os nucleotídeos são compostos por uma base nitrogenada, uma pentose (açúcar com cinco átomos de carbono) e um grupo fosfato. As bases nitrogenadas podem ser classificadas em: pirimidinas e purinas.

O gene geralmente localiza-se intercalado com as seqüências de DNA não codificado por proteínas. Estas seqüências são designadas como “DNA inútil”. Quando este tipo de DNA ocorre dentro de um gene, a porção codificada é classificada como parte não codificada.

O DNA inútil compõe 97% do genoma humano e, apesar de seu nome, ele é necessário para o funcionamento adequado dos genes.

Em cada espécie há um número definido de
cromossomos. Alterações em seu número ou disposição de genes, pode resultar em mutações genéticas.

Quando ocorrem mutações em células germinativas (óvulo ou espermatozóide), as mudanças podem ser transmitidas para as gerações futuras.

As mutações que afetam as células somáticas podem resultar em certos tipos de câncer.
A constituição genética própria de um organismo (genótipo) mais a influência recebida do meio ambiente, será responsável pelo fenótipo, ou seja, pelas características observáveis do indivíduo.

A soma total dos genes é chamada de genoma. As pesquisas realizadas como o objetivo de identificar a localização e função de cada gene, é conhecida como genoma humano.


Atualmente podem ser criados genes artificiais (veja aqui).

Os processos inteligentes acima citados se rtratam de afirmação errônea se analisadas sob a ótica científica. Não há evidências concretas de qualquer processo inteligente na natureza, exceto aquele produzido pela seleção natural.


• E também há o fato da entropia, a lei universal da física que leva os sistemas a ir de mal a pior, a menos que afetados por uma aplicação racional de energia.

Errado.

Na frase acima o comentarista se esquece, talvez por falta de conhecimento, que seres vivos e planetas se tratam de sistemas abertos.





Basta que se forneça energia a um sistema e ele poderá caminhar em sentido inverso. Caso a hipótese acima fosse real, a vida não existiria.

Quanto ao Universo, este pode ser considerado como o único sistema fechado existente, uma vez que onde ele nao existe, suas propriedades não se verificam.

Aqui discutimos detalhadamente o que é entropia.

Mas de algum modo eu duvido que você encontrará esses fatos em Thank God for Evolution. Alguns você achará, de acordo com o autor, que são "muitas das doutrinas centrais do cristianismo - pecado, salvação, o reino de Deus, céu e inferno, Jesus como o caminho de Deus, a verdade e a vida" desempacotadas de "uma forma inegável e realista deste mundo".

Caso Dowd inserisse em seu livro tais equívocos (não se pode denominá-los fatos, conforme faz o comentarista, uma vez que tudo aqui apresentado, a título de comentários, está cientificamente errado), certamente demonstraria falta de conhecimento ao abordar a temática referente à teoria da evolução.

Dowd representa isso, ilustrativamente, com um logo na van que ele e sua esposa usam em seu serviço "domiciliar". Ele mostra dois peixes se beijando: um com o nome de "Jesus" e o outro com o nome "Darwin".

Dowd chama sua perspectiva teológica de "criateística". Seria "cre-ateística?" Parece que sim, considerando que sua esposa, a qual ele descreve como sua "companheira de missão" seja uma ateísta.

Quanto às concepções pessoais de Dowd a respeito de ser religioso ou não e tomar a teoria da evolução como sua fonte de inspiração religiosa, isso é algo de cunho meramente pessoal, que em nada se coaduna ao mundo científico.


CONCLUSÃO:

Novamente o desserviço do criacionismo e do DI atacam com sua retórica repleta de erros no que concerne à seara científica. Repito que o discurso apenas se reveste com jargão científico, porém os equívocos e as armadilhas, não visíveis aos leigos, se fazem presentes ao longo dos comentários.

A respeito de Dowd, somente posso analisar que seu perfil se trata de alguém com forte dose de culpa em sua mente, uma vez que pela sua própria fé e formação, deve ter se reprimido demais e se culpado em excesso pelos seus deslizes.

Assim, Dowd encontrou uma boa justificativa na Teoria da Evolução de modo a se livrar de sua culpa consciente e inconsciente.

Desse modo nosso escritor pode achar que Deus o perdoa, por genes serem os responsáveis pela sua falha de caráter, e, por serem estes oriundos da criação divina, estaria ele isento de qualquer pecado.

Dowd vislumbrou uma forma de Deus o perdoar e excusar-se de suas falhas humanas. Seu comportamento é exatamente aquele previsível que se faz presente em qualquer religioso em busca da salvação.